Cientistas-cidadãos e suas histórias de sucesso...

03/06/2021

Os insetos estão em todos os lugares: inclusive no Instagram

 Não há dúvidas que os insetos são os animais mais bem sucedidos do planeta. Com diferentes formas, tamanhos e cores, eles ocupam os mais variados habitats e prestam serviços ecossistêmicos importantes para a manutenção da vida na Terra. Apesar disso, de modo geral, a percepção das pessoas sobre os insetos está fortemente associada aos malefícios que alguns desses animais podem causar para a nossa sociedade.

No intuito de conscientizar as crianças sobre a importância dos insetos para o homem e para o equilíbrio natural dos ecossistemas, foi criado em 2019 o projeto de extensão "Meu Amigo Inseto". O projeto é coordenado pela Profa. Dra.Jaqueline Magalhães Pereira, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Visitando as escolas públicas e privadas da região metropolitana de Goiânia, o projeto proporcionou a interação das crianças com insetos vivos do Laboratório de Entomologia da UFG (bichos-paus; baratas; bichos-da-seda; pulgões, percevejos, louva-a-deus, esperanças e abelhas nativas), além de caixas entomológicas. Até dezembro de 2019, 340 crianças (de 1 a 11 anos) de quatro escolas participaram do projeto. As atividades foram realizadas pelos professores da Escola de Agronomia (Jaqueline M. Pereira, Paulo Marçal Fernandes e Valquíria Rocha dos Santos Veloso), além do técnico Dr. Marcos Fernandes Oliveira, pós-doutorandos, estudantes de graduação e pós-graduação.

Em 2020, com a expansão da pandemia de Covid-19 e a necessidade de isolamento social, o projeto de extensão teve que interromper as visitas presenciais às escolas e direcionou todos os esforços para as plataformas digitais. É nessa parte da história que eu entro. Me chamo Cayo Alcântara, sou graduando em Ciências Biológicas pela UFG, divulgador científico e bolsista do Programa Bolsas de Licenciatura (PROLICEN), sob orientação da Profa. Renata Dias e do Prof. Michel Mendes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFG. Junto com outros colegas que fazem parte do projeto (Carolinne Fonseca, Juliana Alves, Vitória Reis, Karoline Freire, Victória Carvalho, Carla Felix e Jéssika Albuquerque), produzimos conteúdos para o Instagram do projeto. Temos alcançado excelentes resultados! Em pouco mais de um ano, já atingimos a marca de 2.000 seguidores e mais de 143 postagens, abordando diversos temas sobre o incrível mundo dos insetos.

Entretanto, as nossas ações não ficaram limitadas ao Instagram. A Profa. Jaqueline em colaboração com outros pesquisadores do projeto mantém as ações com as crianças de escolas de ensino infantil e fundamental, mas agora de maneira virtual (online). Nesse período, cerca de 260 crianças de seis escolas diferentes participaram das atividades.

A pandemia de Covid-19 impediu que fôssemos até às escolas, mas não nos impediu de conversar com as crianças (e adultos) sobre a importância dos insetos. Com o isolamento social, levamos os insetos para um novo habitat: as redes sociais. O uso das redes tem aumentado a cada ano e, cada vez mais, as pessoas estão utilizando essas plataformas para se comunicarem e informarem. Levar o conhecimento científico para esses espaços é essencial.

Você quer descobrir mais sobre o incrível mundo dos insetos? Esse é o nosso Instagram: https://www.instagram.com/meuamigoinseto/. E se você quiser nos convidar para participar de atividades virtuais na sua escola, mande um e-mail para meuamigoinseto@gmail.com. Continuamos essa conversa lá nas nossas redes sociais?




A importância da ciência cidadã na conscientização sobre queimadas ilegais

A descoberta e o manejo do fogo foi uma das principais conquistas de antigas espécies de hominídeos. O fogo possibilitou proteção contra os predadores e tornou alguns alimentos mais palatáveis devido ao processo de cozimento. Desde então o fogo tem sido utilizado para diversas atividades no dia a dia dos humanos promovendo avanços culturais. Culturalmente o fogo está no cotidiano de muitas comunidades (por exemplo, uso de fogo para limpeza de áreas ou para o manejo de pastagens). No entanto, essas atividades podem gerar grandes incêndios, poluição atmosférica e impactos na biodiversidade.

Ações de educação ambiental são importantes para conscientização da população e mitigação de queimadas desordenadas. Por isso hoje vamos compartilhar um bom exemplo, por meio de uma entrevista, mostrando como a bióloga Dra. Eliane R. da Silva, professora de biologia em Goiás, conseguiu mobilizar seus alunos para conscientizar pais e familiares sobre o uso incorreto do fogo para limpeza de áreas, queima de lixo ou detritos.

Monitoramento participativo (MP): Quais são os principais impactos do fogo na biodiversidade?

Eliane Silva (ES): As pessoas têm uma ideia de que a fauna e flora no cerrado são resilientes ao fogo, então o fogo seria algo natural a essas comunidades de plantas e animais. No entanto, o que seria benéfico a essas comunidades seria o fogo que acontece naturalmente e com uma menor frequência, como a queda de um raio em um local, e não as queimadas resultantes da ação humana, que são maioria no estado de Goiás.

A maior parte da biodiversidade não está adaptada a queimadas frequentes, por isso temos uma grande perda de flora e fauna, os animais e plantas morrem queimados e as populações sobreviventes muitas vezes não conseguem se recuperar. Consequentemente, a diminuição das populações pode levar a extinção local de algumas espécies. Pensando que nas grandes capitais a maior parte da vegetação e fauna nativa que temos está presente nos parques e pequenos fragmentos, incêndios rotineiros nestas áreas podem alterar os microclimas criados por essas áreas verdes e contribuir negativamente para biodiversidade local.

MP: Qual foi o principal motivador para o início do projeto?

ES: Quando eu me mudei para o estado de Goiás percebi que na época da seca, março a setembro, as pessoas realizam pequenas queimadas o tempo todo. No bairro onde moro, quase todos os dias, observamos fumaça vinda de algum lugar e percebemos que essa fumaça vinha do hábito que os moradores têm de juntar folhas e galhos para queimar. Essa prática rotineira gerou um questionamento: fazer pequenos incêndios é uma prática permitida no estado de Goiás?

Buscando uma resposta para esta pergunta encontrei uma lei orgânica do município que proíbe o uso do fogo para queimar restos vegetais ou lixo. Levei essa informação aos alunos e notei que maior parte não conhecia essa lei ou não sabia da existência de um canal de denúncias criado pelo município. Com base nisso, decidi propor aos alunos uma disciplina para abordar os efeitos de queimadas ilegais na saúde e no dia-dia e explorar outros temas como o uso de plantas bioativas. A ideia de unir esses dois temas veio do fato de que a escola possui um local onde poderíamos construir uma horta e esta era uma demanda antiga dos alunos. Assim, poderíamos aprender mais sobre as propriedades medicinais e cosméticas das plantas e utilizar os detritos orgânicos (folhas e galhos) como adubo para a horta evitando que esses detritos fossem queimados.

MP: Como os alunos se mobilizaram para sensibilizar as pessoas a respeito das queimadas?

ES: A escola CEPI - Professora Olga Mansur, que eu leciono, é uma escola integral então os alunos têm dois horários na semana em que realizam disciplinas eletivas, que são teórico/práticas. Os alunos escolhem dentre as disciplinas eletivas ofertadas em cada semestre e essa disciplina, "Desvendando a vida secreta das plantas", teve uma boa aceitação entre os alunos. Outro diferencial dessa disciplina é que ela envolveu outras matérias como, química e história promovendo transdisciplinaridade e maior engajamento dos alunos.

A- Fachada da escola CEPI Professora Olga Mansur. B- Alunos realizando a manutenção da horta. C- Plantio de mudas de plantas bioativas. Fotos: Eliane R. da Silva e direção CEPI Professora Olga Mansur.

MP: As queimadas no centro-oeste do Brasil são tidas como uma questão cultural e comportamental, como trazer um conhecimento novo para as comunidades e mudar uma atitude que foi passada de geração em geração?

ES: Esse é um desafio, mas conversando com os alunos observei que em geral eles entendem as queimadas como algo prejudicial à saúde e ao meio ambiente, não consigo ver essa geração repetindo os mesmos erros de gerações anteriores. Alguns alunos ainda não veem essa situação como um grande problema, mas não se sentem confortáveis com as consequências geradas pelas queimadas. Logo, essa ideia de que pequenos incêndios são normais é algo raro entre eles.

A principal ferramenta para levar a essa conscientização é a educação, precisamos mostrar as pessoas quais os malefícios das queimadas. E para aqueles que não se importam com a biodiversidade, uma estratégia seria mostrar o quanto essas queimadas impactam a saúde e bem estar humano. Assim, os alunos fizeram um folder informativo contendo as consequências do fogo para a saúde e meio ambiente, colocando o telefone do canal de denúncias e a lei orgânica do município. Essa atividade foi uma proposta que os alunos criaram e executaram, todos os desenhos, design e escrita do folder foram resultado do trabalho em conjunto dos alunos. Isso me deixou bem feliz porque quando os alunos tomam a iniciativa de algo, eles se apropriam do conhecimento. Posteriormente, imprimimos e entregamos o folder em toda a escola. O mais interessante foi que alguns alunos me pediram para imprimir mais folders para que eles distribuíssem em seus bairros. Nesse momento percebi que os alunos tomaram a frente de levar esta atividade além dos muros da escola e informar mais pessoas sobre o assunto.

Cartilha confeccionada pelos alunos da escola CEPI Professora Olga Mansur para conscientização da comunidade sobre queimadas ilegais. Créditos*: Alunos e direção CEPI Professora Olga Mansur.

*Instruções para o uso das imagens: Atribua os direitos autorais desta cartilha e demais imagens aos alunos e comunidade escolar (CEPI Professora Olga Mansur) envolvida nesta atividade. Para entrar em contato com a escola sigam os links que estão no final da entrevista.

MP: É possível inserir alternativas para o uso do fogo na limpeza de lotes?

ES: Sim. No nosso caso, a alternativa foi a criação da horta da escola, onde as folhas que seriam queimadas foram utilizadas como adubo. Começamos a trabalhar na horta no período da seca, o que foi um desafio, por isso as folhas foram fundamentais para ajudar a manter a umidade após as regas e amenizar a temperatura do solo. Os alunos se envolveram neste processo trazendo mudas de plantas bioativas de suas casas e realizando regas duas vezes por dia nos intervalos das aulas.

A horta nos permitiu abordar diversos conteúdos como morfologia vegetal, práticas de botânica e zoologia, observando os principais grupos de invertebrados presentes na horta. Outro aspecto importante é que no período da seca se acumulam mais detritos foliares e esses detritos demoram a se decompor, assim as pessoas optam por queimá-los ao invés de esperar o processo de decomposição das folhas.

Em nossa horta os alunos observaram que apesar de ter uma camada grossa de detritos foliares, os detritos foram decompostos rapidamente sendo um ótimo adubo para as plantas. A longo prazo os alunos também perceberam uma mudança nas características do solo. O solo que antes era seco e pobre, agora retinha maior umidade e possuía uma cor mais escura devido a maior quantidade de nutrientes, além da presença de muitas minhocas. Os alunos ficaram admirados como pequenas atitudes puderam transformar o solo em tão pouco tempo.

Outra atividade abordada foi a confecção de um sabonete natural, a partir de produtos que não agridem a saúde e são biodegradáveis utilizando as plantas bioativas cultivadas na horta. Enfim, existe uma infinidade de alternativas que podemos utilizar para não poluir o meio ambiente, uma delas é ter hábitos sustentáveis. 

Etapas de construção da horta utilizando materiais recicláveis e detritos foliares: A- Antes da implantação da horta. B- Depois da implantação e plantio de mudas de plantas bioativas na horta. Fotos: Eliane R. da Silva.

MP: Você acredita que seja possível replicar este método em outras escolas?

ES: Em escolas de ensino integral esse tipo de atividade é mais fácil de ser realizada, pois eu tive uma disciplina com um tempo semanal dedicado para trabalhar e aplicar esse método com os alunos. Para as escolas que possuem horários regulares a execução desta atividade seria mais complexa devido à falta de flexibilidade no calendário escolar. No entanto, acredito que pelo menos parte das atividades podem ser inseridas nas aulas de biologia sem muita dificuldade, tais como a realização de práticas de botânica e zoologia utilizando canteiros na escola, bem como o estudo do processo de decomposição das folhas em aulas de ecologia.

MP: Como inserir a educação ambiental na rotina das escolas?

ES: O currículo escolar do ensino médio está sendo reformulado através da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a qual será focada em trabalhar as competências e habilidades dos alunos, e eu observo que muitas dessas competências e habilidades estão voltadas para a educação ambiental. Com a implantação da BNCC, teremos que inserir a educação ambiental nas escolas de alguma forma. No meu caso, para a construção e execução da horta observei que mesmo com pouco recurso conseguimos executar ótimas tarefas, e ampliar para as outras disciplinas promovendo pequenos momentos de educação ambiental. Eu vejo que os alunos começam a se importar com a natureza quando eles a conhecem. Tenho muitos alunos que não tinham interesse pelas plantas e começaram a se encantar por elas depois de algumas aulas práticas de botânica, e quando os alunos se encantam eles começam a trazer curiosidades sobre plantas e exemplares para a sala de aula.

Quando realizamos mais aulas práticas os alunos têm a possibilidade de conhecer e perceber o quanto os animais e as plantas são importantes. Essas pequenas práticas contribuem para a formação de alunos com uma consciência ambiental e permitem a aplicação de práticas de educação ambiental nas escolas.

Notas:

*Provocar incêndios são infrações graves que podem gerar multas ou detenção e se enquadram na Lei de Crimes Ambientais (Lei n° 9605, 12 de fevereiro de 1998).

*Todas as imagens foram autorizadas pela direção da escola CEPI Professora Olga Mansur.

Para mais informações sobre as atividades da escola CEPI Olga Mansur:

Facebook - https://www.facebook.com/CEPIOlgaMansur/

Instagram - @cepiprofolga

Referências (Acessadas em 02/07/2020):
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Controle_do_fogo_pelos_primeiros_humanos



Nesta seção iremos abordar assuntos que tragam um pouco de conforto à sua jornada científica.

Afinal, estamos sozinhos nessa luta? Não, nem só de Mata Atlântica vive o cientista cidadão... nem só de Brasil... nem mesmo, só de "água"...

Nós traremos aqui experiências de sucesso e curiosidades sobre o trabalho de outros cientistas cidadãos. Com postagens extras, em períodos não determinados, iremos trazer experiências que possam te empolgar, a medida que o nosso trabalho conjunto vá se fortalecendo.

Quem são eles? O que descobriram? Onde chegaram? O que sugerem? Estamos no caminho certo?

A resposta para a última pergunta eu "acho" que já temos:

Sim, o caminho certo é aquele que percorremos juntos, em prol de um futuro melhor! Sim, estamos! 

© 2020 Juliana França, doutora em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
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